Cara Presidente da Academia de Letras de Balneário Camboriú, Sra. Teca
Mascarenhas, e sua vice Miriam Almeida, meu agradecimento especial
pelo acolhimento dos novos acadêmicos. Saúdo toda a diretoria,
confrades e Confreiras desta tão honrosa academia, bem como, os
amigos e familiares aqui presentes.
Gostaria, nesse momento de agradecer imensamente a oportunidade de
estar aqui, ocupando a cadeira de número 21 da Academia de Letras de
Balneário Camboriú, com o patrono Manoel Bandeira.
Manoel Bandeira, Pernambucano, nascido em Recife em 1886, é poeta,
crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro
pernambucano, é um dos nomes mais reverenciados da literatura
brasileira de todos os tempos.
O poeta viveu grande parte de sua vida com a iminência da morte, o que
influenciou fortemente sua produção literária. Bandeira encontrou na
poesia uma forma de transcender as dificuldades, criando versos que
celebram a beleza dos pequenos momentos da vida e o poder da
imaginação.
Suas obras são marcadas pela simplicidade formal e pela profundidade
lírica, e dialoga com temas como a morte, a infância, a solidão e o desejo
de liberdade.
E como já dizia ele próprio, Manoel Bandeira, “vivo nas estrelas porque é
lá que brilha a minha alma…”
Escrever é ser alma, escrever pra mim é isso, é viver nas estrelas,
brilhando, iluminando e encantando quem lê, o que se lê, o que
escrevemos.
É uma audácia, concordo e aceito, mas identifico muito minha escrita
com a de Manoel Bandeira. Agora Ele é meu patrono e uma de minhas
fontes de inspiração.
Manoel Bandeira foi um dos pioneiros do Modernismo no Brasil. Sua
poesia é marcada por uma linguagem coloquial, versos livres, irreverência
e liberdade criadora.
Versos livres e liberdade criadora é exatamente tudo o que busco na
minha escrita. e por isso não tenho palavras que possam expressar
minha gratidão por tê-lo como patrono.
E no trecho do poema “Belo Belo”, uma frase que simplifica o que sou e o
que almejo todos os dias: “Quero a delícia de poder sentir as coisas mais
simples.”
Todos os dias quando acordo, meu sopro só quer um canto, um canto
para ler, para refletir e para ser. Todos os dias quando acordo me sinto
honrada por fazer parte de um grupo seleto e intenso de pessoas que
amam ler, que amam escrever e que fariam de tudo para viver e sentir
essas leituras todos os dias.
Todos os dias me deparo com as adversidades da vida, tendo plena
consciência de que sou privilegiada, porque me envolvo com a escrita em
algum momento do meu dia, todos os dias.
O que seria de nós pobres e insensatos seres humanos sem a magia da
leitura, sem a magia da escrita.
Descobrimo-nos quando escrevemos, economizamos em terapia, porque
quando entramos no modo escrita, crescemos, viramos gigantes e somos
super-heróis e heroínas da nossa própria história e da história de todos os
nossos leitores.
Há quem diga que nós escritores, usamos a escrita para fugir, ou até
mesmo enlouquecer; seja qual fora o motivo, o fato é claro, nos
esvaziamos de tudo e nos enchemos do gozo do saber.
A escrita é democrática, o papel aceita absolutamente tudo, e nesse tudo
nos enlouquecemos apaixonados pelas vidas e histórias e alucinações que
construímos.
Temos o poder da caneta, de escrever o final da história, o final do
pranto, o final da poesia.
É ali no ápice da escrita, que formatamos de forma destrutiva o que
somos, o que queremos e o que, simplesmente desejamos ser e estar. E é
nesse ápice da escrita que Manoel Bandeira me inebria.
Trecho de Madrigal Melancólico – livro da Antalogia Relógico de Aguá
“O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!”
Vida que nasce, cresce, produz e morre, mas que tem um
papel fundamental para os escritores. A arte de provocar o que tem de melhor
e o pior dela.
A Liberdade de criar!
É tanto criar, é tanta escrita, que poderia falar por horas e horas aqui…
mas meu tempo é curto e preciso me atentar o que verdadeiramente a
escrita faz em minha história.
E não poderia deixar passar em branco a minha principal fonte, não só de
inspiração, como também de compartilhamento de talento. Minha Mãe!
Ela sempre foi minha fonte de inspiração para escrever. Ela, como uma
Filosofa, despertou em mim os questionamentos, as reflexões, e todas as
suas mais variadas formas de buscar o conhecimento.
Herdei dela o dom da escrita, vi ela montar músicas, alterar letras, e
sobre uma narrativa sempre diferente na qual os contextos já estavam
inseridos.
Foi ela quem me fez ver, ainda criança, que o poder da escrita
transforma, ajuda e faz o ser humano crescer.
Foi ela que, nas aulinhas de pensar, me fez ver que o mundo pode ser
construído do jeito que a gente quiser, seja ele no real ou no imaginário.
E é desse poder que me apoderei, é esse poder que a escrita me consome.
Posso esvaziar minha cabeça, meu coração e minha alma a hora que eu
bem quiser esvaziar, enchendo com aquilo que desejo, sempre e sempre,
como uma forma devastadora de criar e recriar tudo.
Somos super-heróis, construindo nossas formas e loucuras, e trançando
caminhos que nem mesmo sabemos ou imaginamos.
Dizem que somos feitos de letrinhas e pedrinhas. Eu digo que temos
sede, sede de esvaziar o que temos de melhor e pior, e nesse processo
crescemos e nos multiplicamos, é nesse processo que filmamos nosso
filme da vida, de quem somos.
É aqui que a vida se coloca, é aqui que a vida muda, é aqui que a história
acontece, é aqui que o novo se faz, o velho se reproduz, e a criatividade
se multiplica. É aqui nesse lugar de escritor que me coloco, que me
envolvo, que retomo e que me surpreendo a cada instante; é aqui nesse
lugar que tenho a máxima e absoluta certeza de que sou o que sou, sem
mascarás, sem receio e sem medo, limpa, livre e soberana. Contando e
contraindo minha própria história e as histórias de quem eu imagino.
É nesse lugar que supro meu amor incondicional por viver, é aqui nesse
estado sublime que construo minha conexão com Deus e com o que
acredito.
Em 1993 despertei para escrita, sem nada de critérios, que me entreguei
para essa prática que seria, sem dúvidas, minha maior forma de me
encontrar nesse mundo e nesse existir. E desde lá minha escrita mudou,
minha experiência falou, minhas dores gritaram, meus sentimentos
afloraram e minha vida se fez plena.
Não preciso de drogas, bebidas ou remédios, preciso apenas da liberdade
para escrever, criar e ser. Não preciso ser sempre alegre, triste e
melancólica. A magia da escrita pode vir a qualquer momento e em
qualquer estado de espírito. Nas profundezas da escrita, mergulho limpa,
nua e sinto a dor, o amor, a alegria, a raiva e a soberania. O escritor se permite
voar, criar, amar e odiar, e isso é o sublime da liberdade da
escrita.
Meu processo criativo já aconteceu de inúmeras formas: na madrugada,
no meio de um bar, tomando café na cafeteria, no aconchego do meu
quarto, no meio de um treinamento, na plenitude da consagração com
Deus, dirigindo, tomando banho, brigando e amando, e até dormindo.
Independente da forma, o processo da escrita criativa vai nos
empoderando e nos inebriando. Escrever é desafiador, solitário e
fascinante!
Quem canta seus males espanta, já dizia o poeta, mas quem escreve
conta histórias para eternidade, quem escreve por vezes é louco e
insensato, formal e depravado, é fútil e voraz, é sublime e esperançoso, é
feio e lindo, é por si só amante e amado.
Escrever é arte que inebria, que ilumina a sombra, que aquece o gelo, que
tira todo tipo de peso, que repele e acolhe, que discute e gera paz, que
soma e multiplica.
Escrever é vicio, e eu estou dopada e não quero sair dessa entorpecedor.
Escrever me mantem viva, é essa minha forma de expressar, de sonhar e
sentir a vida.
E para finalizar, quero agradecer a minha filha Luana Porto, pois ela me
deu mais um monte de motivos para escrever e é fonte de inspiração
para tudo.
Agradecer também ao meu marido Ricardo Krobel, que simplesmente é
meu primeiro fã da escrita, meu primeiro crítico, e que entende 100%
meus momentos de inspiração e processos criativos. Minha caminhada na
escrita é mais leve com vocês ao me lado.
E eu quem sou?
Sou Laura Porto, brasileira, gaúcha, administradora de profissão, e
escritora de coração.
Apaixonada pela vida, luto por cada minuto de felicidade, busco ela todos
os dias no mar, no sol e na lua, nada limpa mais que o mar, nada aquece
mais do que o sol, e nada é tão lindo quanto a lua.
Alguns dizem que sou estabanada, outros dizem que sou amiga, outros
dizem que sou companheira, outros dizem que sou batalhadora, outros
que sou corajosa, outros que sou linda hehehe!
Outros ainda dizem que sou teimosa, mas o que importa mesmo e que
sou apenas a Laura… que ri, que chora, que luta, que briga, que abraça,
que ama, mas que acima de tudo vive, vive todos os defeitos, todos os
acertos, todos os erros, e que desfruta de todas a qualidades que me
fazem ser um ser humano muito melhor.