El Diablo

Victor Conte Lelis

Em meados do século 19, numa cidadezinha do Texas, conhecida como Dallas, surgiu a lenda de um homem que vivia numa casa de madeira, feita com pisos de tábuas largas e desniveladas que faziam ressoar cada passo de seu morador de nome Oswald. Ele era conhecido como “O homem de perna de pau”, por ter perdido a sua perna. Oswald tinha a aparência marcada por cicatrizes no rosto, um bigode bem acentuado e um estilo exótico, com calças largas, uma jaqueta de couro marrom e uma botina country. Na cintura, ele carregava um Colt 45, herdado de seu avô, que havia falecido em um desfiladeiro, tentando fugir de assaltantes.

Oswald se tornara um homem diferente após a morte de seu avô. Por esse acontecimento, a sede de justiça preencheu o vazio de seu coração e ele jurou que se vingaria e que a justiça seria feita. Em Dallas, a criminalidade aumentava em decorrência do desemprego e aumento do custo de produtos mercantis, alavancado pela seca que havia desolado a maior parte das produções agrícolas. Os mesmos assaltantes invadiam terras e eles se tornaram conhecidos por “Os exploradores”. Os murmúrios de insegurança se espalharam. Oswald, ao saber, decidiu liderar uma liga de combate ao crime.

Cavalgou pelas pradarias, de fazenda em fazenda, e conversou com todos os fazendeiros da região. Assim, os diversos grupos se reuniram. Discutiram e planejaram possíveis rotas e caminhos que os saqueadores poderiam percorrer. Agora, o objetivo era o mesmo: contra-atacá-los e prendê-los.

Naquela noite, em sua casa, Oswald teve uma noite difícil, parecia que ela não terminava. Ele estava ansioso e irrequieto.  Não conseguia pegar no sono e o som das tábuas rangia sob o peso de sua perna de pau. Em sua cabeça, os pensamentos rememoravam-se na medida em que, como se fosse uma ampulheta, o tempo o remetia para o passado. Ele não estava se preparando para um simples confronto, estava prestes a cumprir o juramento de promover justiça.

Ao nascer do sol, do chão arenoso de Dallas, a poeira subia dos cascos dos cavalos que relinchavam feito loucos, pressentindo o que vinha pela frente. A cavalgada foi marcada por incontáveis fazendeiros e mulheres corajosas, todos motivados pela raiva e pela necessidade de expulsar os assaltantes.

Como Oswald havia calculado, os saqueadores seguiram por uma estrada que passava por um desfiladeiro, que ligava um riacho às fazendas mais abastadas da região. Eles marraram seus cavalos escondidos atrás de uma grande pedra e seguiram a pé até um lugar seguro para montar uma emboscada atrás de rochas.

Os bandidos, num total de vinte homens, tinham acabado de saquear uma fazenda e cavalgavam em fuga. Eles não esperavam encontrar pela frente o grupo liderado por Oswald.

De repente, Oswald saiu detrás de uma rocha com sua carabina e seu Colt 45 e gritou: —- PAREM, SEUS MALDITOS!

A quadrilha ofereceu resistência e o momento foi de intenso tiroteio. Oswald rapidamente puxou o cabresto do cavalo e o usou como escudo, apesar de sua perna, agiu com agilidade. Chamou o líder para um duelo e sob olhares testemunhos e curiosos. O seu ato de bravura fez com que um tiro certeiro acertasse a cabeça do chefe da quadrilha. Os olhos de todos se voltavam para o líder, que desabava pelas rochas.

Fez-se silêncio!

Oswald gritou para os demais se entregarem ou morreriam. Não demorou muito e os demais jogaram suas armas ao chão, suplicando por misericórdia. 

Acovardados, todos saíram detrás das rochas com os braços erguidos e se prostraram no chão. Os fazendeiros, armados e vitoriosos e sem nenhuma baixa, também saíram detrás das pedras e suspiravam aliviados.

Reconhecidos pelo ato de bravura, baixaram suas cabeças e reverenciaram Oswald, como forma de agradecimento e, nesse momento, ele deixou de ser “o homem da perna de pau” e se tornou símbolo de justiça.

Oswald caminhou até o corpo de seu inimigo, a sede de justiça havia sido saciada, mas a satisfação era curta e fria, ela não devolvia a vida de seu avô. Olhou para todos os fazendeiros e ordenou: — Que a justiça seja feita, levem esses canalhas a Dallas e os entreguem ao Xerife, para que saibam que nossas terras têm lei.

A partir daquele dia, os rangidos ressoavam diferente nas mentes das pessoas. A sua chegada era recebida com outros olhos e ninguém mais ousava fazer piadas com a sua deficiência física.

Oswald; se tornou o Xerife do condado e os bandoleiros temiam o Colt 45 do justiceiro da perna de pau.

 

Victor Conte Lelis é aluno da Escola de Criação Literária, da Academia de Letras de Balneário Camboriú.

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